segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A violência contra a mulher não pode ser tolerada

Afirmar que a violência contra a mulher não deve ser tolerada soa simples e óbvio. Na verdade, em pleno século XXI parece mesmo é esta é uma afirmação desnecessária, mas basta uma simples pesquisa ou conversa para vermos como esta afirmação se faz cada dia mais necessária.
A mulher ganhou o direito de trabalhar, estudar e votar - direito esse que completou 80 anos no Brasil. Mas mesmo após diversas conquistas, muitas mulheres ainda são reféns da violência que, na maioria das vezes, acontece dentro de seu próprio lar. Quem comete a violência costuma explicar o ato de diversas maneiras, a verdade é que para esses verdadeiros monstros qualquer motivo desencadeia uma agressão.
Os dados sobre a violência doméstica são assustadores, segundo o Mapa da Violência, do Instituto Sangari (2012), de 1980 a 2010, foram assassinadas 91 mil mulheres no Brasil, 43,5 mil só na última década. O número de mortes nesses 30 anos saltou de 1.353 para 4.297, um aumento de 217,6%. Além disso, seis em cada 10 brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica. O machismo e o alcoolismo são os principais fatores que levam a esse tipo de agressão.
Na maioria das vezes quem agride é alguém próximo à vítima, em 2011, a Central de Atendimento à Mulher, um serviço de âmbito nacional da Secretaria de Políticas para as Mulheres, contabilizou 75 mil relatos de violência contra as mulheres. Desse contingente, cerca de 60% foram vítimas de violência física, 24% de violência psicológica e 11% de violência moral. Na maior parte dos casos, o agressor era o próprio companheiro (74,6%) e, além disso, em 2/3 das situações (66,1%), os filhos presenciavam a violência sofrida pela mãe.
Infelizmente, assim como o machismo, a violência doméstica ainda está enraizada em muitas famílias. Para alguns homens, agredir fisicamente sua esposa é algo normal. Em grande parte dos casos, o agressor culpa a própria companheira pela violência, afirmando ser ela o estopim de sua agressividade. O pior é que segundo análise recente do IBGE muitos atos sequer são notificados às autoridades. Imagine então os verdadeiros números, esses sim devem ser assustadores.
Para tentar combater esses números existem centenas de grupos e organizações contra a violência doméstica. Criado em 2011, o Projeto Raabe objetiva auxiliar mulheres que sofrem ou sofreram algum tipo de violência doméstica ou abuso. Além de encontrarem um ombro amigo, essas mulheres recebem atendimento especializado com assistentes sociais e advogados. O projeto está em diversos países e vem crescendo a cada dia.
Em novembro, aconteceu em diversos estados e países a II Caminhada “Rompendo o Silêncio”, coordenada pelo Projeto Raabe e idealizado pela escritora Cristiane Cardoso. Em São Paulo, o evento aconteceu na zona Sul e contou com centenas de pessoas que caminharam atrás de um carro de som pela Av. João Dias gritando frases contra a violência doméstica e cantando músicas com a cantora Sula Miranda. Participei da caminhada e fiquei entusiasmado ao ver que as pessoas vêm se conscientizando com relação ao tema.
Os grupos e organizações que atendem esses casos tentam sanar uma deficiência que ainda temos no país. Segundo dados recentes da Secretaria de Políticas para as Mulheres, mesmo possuindo mais de 5.500 municípios, o Brasil conta com apenas 375 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 115 Núcleos de atendimento, 207 Centros de Referência (atenção social, psicológica e orientação jurídica), 72 Casas Abrigo e 51 Juizados Especializados em Violência Doméstica.
Além de causar danos muitas vezes permanentes à vítima, a violência doméstica também desencadeia gastos nos cofres públicos. Segundo o Ministério da Saúde, em 2011, o Brasil gastou R$ 5,3 milhões somente com internações. Além de custos financeiros, esse tipo de ato gera prejuízos sociais que podem perdurar por várias gerações. Por isso a importância de debater o tema na comunidade e denunciar sempre que for vitima ou presenciar a violência doméstica. Somente unindo forças poderemos derrubar essa que é uma das mais sérias ameaças à saúde pública.

*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e líder da bancada na Assembleia.



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