terça-feira, 21 de julho de 2015

Novos limites de velocidade e suas contradições

Finalmente surge uma luz no fim do túnel: nesta semana o Ministério Público abriu inquérito para apurar a redução de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê, em São Paulo. Mas a nova decisão arbitrária da prefeitura paulista também foi questionada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, que decidiu entrar com uma ação civil pública contra a medida do prefeito Fernando Haddad.
Parabenizo a postura das duas entidades, que demonstra preocupação com o interesse coletivo. A proposta da OAB foi apresentada pelo presidente do órgão, Marcos da Costa, e aprovada pela maioria dos conselheiros. Segundo Costa a medida não pode ser levada adiante sem que a população seja consultada. Realmente, a população precisa ser consultada, já que é ela a mais atingida por qualquer tipo de decisão. Não podemos esquecer que mais de 500 mil carros passam diariamente pelas marginais Tietê e Pinheiros.
A questão da segurança é importante, mas piorar o já caótico trânsito das marginais não é a melhor solução, além disso, existem medidas mais brandas para diminuir os acidentes, como melhorar a sinalização, melhorar o asfalto nas marginais e investir na conscientização da população. Além disso, o sistema viário adota a proporcionalidade de velocidades, e se nas rodovias a velocidade máxima é de 120 km e essas vias desembocam nas marginais, que deveriam ser vias de trânsito rápido, a velocidade não pode ser drasticamente inferior, permitindo assim a fluidez e evitando o represamento do trânsito e a lentidão.
A medida recente contraria também o Código de Trânsito Brasileiro, que propõe velocidades mais altas para as vias rápidas. Outra questão preocupante é a maneira rápida e irresponsável com que foi aplicada essa medida, parece mesmo é que a intenção é arrecadar mais com multas por excesso de velocidade.
Existem mudanças tão contraditórias e complexas que precisam ser muito bem avaliadas antes de serem colocadas em prática, mas a prefeitura paulista não vem se preocupando muito em estudar os resultados das ações que pretende aplicar, na verdade a prefeitura vai logo testando na prática mesmo, foi assim com as faixas exclusivas para ônibus e bicicleta. Em uma cidade como São Paulo é inconcebível aplicar mudanças que possam afetar milhares de pessoas sem antes estudar seus resultados, afinal, o município de São Paulo possui 11,9 milhões de habitantes. Quando pensamos em mudanças que afetam o trânsito os números são mais grandiosos ainda, pois a nossa frota de veículos chega a 8 milhões.
É exatamente por causa desses números que precisamos de cautela e responsabilidade para fazer mudanças radicais nessa imensa capital. Além disso, é preciso ouvir a população, já que nossos governantes governam pessoas e não grupos isolados. São Paulo tem “problemões” que precisam ser resolvidos e diminuir a velocidade das marginais parece mesmo uma maneira ruim de mostrar serviço. Melhorar o tráfego, por exemplo, é uma dessas questões.
Recentemente o jornal El País publicou o texto “São Paulo, onde o carro é mais lento que o lento transporte público”, a publicação lembrou que quem anda exclusivamente de carro gasta diariamente 2h53 no trânsito, e quem anda apenas de ônibus leva 2h46 para se deslocar, ou seja, o problema é mesmo o trânsito. Eis aí uma questão que precisa ser discutida e resolvida: melhorar a quantidade e qualidade de opções de transporte público para desafogar nosso trânsito. Em uma cidade que possui mais de 11 milhões de habitantes apenas 69,4 quilômetros de rede de metrô parece insuficiente, você não acha?
Essas preocupações, sim, merecem ser discutidas e precisam de soluções, mas até agora a atual administração da prefeitura de São Paulo não tomou nenhuma medida efetiva para resolver essa situação. Não é excluindo e dificultando a circulação de veículos de passeio que os verdadeiros problemas serão resolvidos. A população quer soluções e não complicações.

*Gilmaci Santos é deputado estadual (PRB) e membro efetivo da Comissão de Constituição, Justiça e Redação.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Centro de Tratamento a Acidentados

Recentemente recebi um representante dos motociclistas de nosso estado, que me contou sobre os diversos acidentes que acontecem diariamente com esse tipo de veículo. Mas, mesmo que sejam os que mais se envolvem em acidentes de trânsito, os motociclistas não são os únicos que fraturam membros e precisam utilizar o sistema público de saúde (SUS) em tratamentos longos e extremamente dolorosos.
Traumas e lesões podem ser acarretados de diversas maneiras, mas, hoje, os acidentes de trânsito são os principais motivos de internações e mortes no país, o que causa grande impacto nos custos com a saúde. Segundo o Mapa da Violência de 2013, sobre acidentes de trânsito e motocicletas, o estado de São Paulo teve, em 2012, um total de 38.761 internações no SUS por acidentes de trânsito. O mapa utilizou dados do Ministério da Saúde para mensurar esses atendimentos, dados detalhados mostram que, desse total de internações, 10.679 eram pedestres, 3.273 ciclistas, 20.305 motociclistas, 4.083 estavam em um automóvel, 320 utilizavam algum transporte de carga e 101 usavam o ônibus. 
Dados ainda mais recentes demonstraram que, a cada ano, 45 mil pessoas perdem suas vidas em acidentes de trânsito no Brasil. O problema é mundial e fez com que organismos internacionais, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), promovessem iniciativas de alerta e apoio incentivando o desenvolvimento de políticas públicas para enfrentar este problema. Nesse contexto, apresentei recentemente a Indicação 1461/2015, ao governador do Estado, pedindo a criação do Centro de Tratamento a Acidentados (CTA). Esses centros de tratamento seriam unidades de atendimento médico com especialistas em traumatologia, ortopedia e fisioterapia. Segundo a indicação, o CTA deverá atender as vítimas de acidentes de qualquer natureza, mas, principalmente, as vítimas de acidente de trânsito.
É claro que o ideal seria que esses incidentes pudessem ser evitados, mas, já que eles ocorrem, as pessoas que se acidentam devem ser tratadas de modo eficiente e com especialistas neste tipo de trauma. Dados recentes mostram que Saúde gasta mais de R$ 185 milhões com internações de vítimas de acidentes de trânsito. O País gasta R$ 390 com vítimas de trânsito por minuto. Em 2011 quase metade dos gastos do SUS com vítimas do trânsito no Brasil foi destinada ao atendimento de motociclistas, pois, entre 2008 e 2011 houve um aumento de 95,32% nas internações de motociclistas acidentados. Segundo o Ministério da Saúde, São Paulo tem o maior número de internações por ano, além disso, das vítimas de acidente hospitalizadas em 2011, 48,1% eram usuários de motos.
Esses centros de tratamento especializado seriam extremamente importantes aos usuários do SUS, pois os pacientes poderiam ter seu problema resolvido mais rapidamente se fossem tratados de forma rápida e eficaz desde o início, isso seria extremamente salutar até mesmo para a nossa economia, pois, na capital paulista, por exemplo, fraturas e problemas nas costas encabeçam a lista das doenças que mais dão afastamentos pelo INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). E não são apenas os acidentados no trânsito que lotam os hospitais, estatísticas mostram que 30% dos idosos vão cair pelo menos uma vez por ano e em 5% desses casos haverá uma fratura de fragilidade.
A ideia da criação do CTA é centralizar especialidades e especialistas em um único lugar para que o tratamento do acidentado seja completo. Espero que o governo de nosso estado ouça o clamor da população e considere a criação de unidades do Centro de Tratamento de Acidentados.

*Gilmaci Santos é deputado estadual (PRB) e membro efetivo da Comissão de Constituição, Justiça e Redação.