quarta-feira, 1 de junho de 2011

Lições que excedem a vida

Gilmaci Santos*

Em 29 de maio completaram-se dois meses da morte de um dos homens mais fortes, sábios, humanos e honrados que conheci. Com seu sorriso sincero e tímido, sua fala carregada de vivências, José Alencar (1931-2011) será sempre lembrado por nós, e creio que também pelas gerações vindouras. Ele foi um desses homens que se tornou referência de caráter em nosso país. Quem dera, todo ser humano tivesse a sua postura frente à vida.

A frase "não tenho medo da morte, tenho medo da desonra" foi imortalizada, assim como sua imagem de político e empresário ilibado. Na verdade, seu exemplo transcende a morte, suas aparições serviram como consolo e força para os que passaram pela mesma situação. Para ele, o homem honrado, especialmente aquele que milita na vida pública, não morre nunca. Mas, se ele for um camarada desonrado, morre em vida.

Mesmo em meio a uma guerra contra o câncer, ele parecia ser inabalável. Os brasileiros se acostumaram a ver José Alencar saindo do hospital, às vezes, andando, outras, de cadeiras de rodas, mas sempre sorrindo e acenando para todos. Zé chegou a sancionar leis de dentro do hospital, pois nunca parou de trabalhar pelos brasileiros.

Por unanimidade, quem gostava de Lula gostava também de José Alencar, mas mesmo quem não gosta do ex-presidente também gostava de José Alencar.

Fundador da maior empresa do ramo de tecidos do mundo, Alencar nunca passou por cima de ninguém. Conquistou sua posição por meio de seu carisma e trabalho. Ele considerava um dever ser transparente com a população, pois acreditava que esse era o dever de um homem público. É, pode parecer piegas tudo isso, mas me pergunto se não é esse tipo de postura que tem faltado a muitos de nós cidadãos?

Vivemos hoje um período em que a sociedade parece perder valores fundamentais, como a verdade, a palavra, o caráter e a honra. Hoje, existem pessoas que fariam de tudo para alcançar um objetivo, e isso não se limita apenas a política. Na verdade, muitas pessoas são capazes de passar por cima de outros ou mesmo de sua própria consciência com a desculpa de que precisa manter seu emprego ou ganhar muito dinheiro. Tudo isso é tão passageiro e perecível, que chega a ser desprezível tão postura.

A honra a qual José Alencar se referia foi sua maior qualidade e, por causa dela, sua imagem será lembrada pelas novas gerações, mas, os desonrados, esses responderão pelos seus próprios atos ainda em vida.

Parece-me que nem mesmo os princípios considerados fundamentais e universais sobre o que é bom e ruim vêm sendo respeitados. Blaise de Monluc (1500), guerreiro e escritor, disse: "Nossas vidas e nossos bens pertencem a nossos reis. A alma pertence a Deus e a honra a nós. Pois sobre a minha honra meu rei nada pode”. Faltar com a honra nesses termos seria como ultrapassar o próprio controle. A honra, que nos tempos mais remotos era um bem e em alguns casos só podia ser restabelecida por meio da morte, está presente na moral de boa parte da população brasileira, mas parece estar em descrédito.

O escritor Rui Barbosa (1849), em repúdio a perda dos valores que já presenciava em sua época, declarou no Senado: “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

O desvirtuamento de valores é uma realidade por aqui, um país em que o dinheiro parece comprar quase tudo, menos a dignidade, onde a população ficou conhecida por dar aquele “jeitinho brasileiro” quando não consegue resolver alguma situação, a palavra deixou de ter o seu valor. Mas, meus caros, eu creio que nem tudo está perdido, essa mudança cultural depende apenas de nós. Ainda é possível que a sociedade volte a prezar aquele princípio ético que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa e corajosa – a honra, característica tão bem representada por Zé Alencar.

*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.

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