segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O recado das urnas

A Constituição Federal de 1988 inseriu em seu texto as eleições diretas para os cargos de presidente da República, governadores de estados e prefeitos municipais, além do direito de voto para os analfabetos. O voto passou a ser uma forma de participação e escolha direta da população na política nacional e no futuro do país.
Mas “a festa da democracia” passa por um novo período, neste ano acompanhamos uma eleição concorrida e bem dividida, mas o que mais me chamou a atenção não foi o resultado acirrado entre os candidatos Dilma Rousseff (51,64%) e Aécio Neves (48,36%) no segundo turno, mas a quantidade de abstenções, um total de 30.137.479 milhões (21,10%) de pessoas deixou de comparecer às urnas e escolher aquele que acreditam ser o melhor nome para representá-las. Além disso, foram contabilizados 1.921.819 milhões (1,71%) de votos em branco e outros 5.219.787 milhões (4,63%) de votos nulos. Pouco mais de 37 milhões de pessoas decidiram não escolher nenhum dos dois candidatos, ou seja, 27% da população demonstra insatisfação com os políticos que chegaram ao segundo turno da eleição presidencial.
Até mesmo quem decidiu votar e não optou por nenhum dos dois candidatos preferiu, em sua maioria, votar nulo - chamado popularmente de o voto de protesto.  Mesmo que os votos em branco não sejam considerados válidos desde a Lei nº 9.504/1997 (Lei das Eleições), assim como os nulos, muitos decidiram votar nulo por receio de que seu voto fosse contabilizado, eu mesmo ouvi isso nas ruas diversas vezes.
Mas o que esses números representam? Uma pesquisa do Instituto Data Popular feita antes das eleições mostrou desinteresse e um alto grau de desconfiança do eleitorado em relação à classe política. A ausência de propostas e a agressividade das campanhas nesse segundo turno justificam em partes esse índice. Mas a insatisfação com a política brasileira vem de antes, desde antes das manifestações de 2013, aquelas que ficaram conhecidas como as Manifestações dos 20 Centavos, a população pediu mudanças, mas não só melhorias na saúde, educação e no emprego, mas também na política brasileira. Neste ano, já no primeiro turno, 30% dos eleitores votaram nulo, branco ou não foram às urnas.
A insatisfação com o status quo é real e precisa ser questionada. Porque nossos eleitores estão insatisfeitos? Sabemos de alguns motivos; a imprensa utiliza páginas e mais páginas para fazer denúncias, e mesmo que muitas vezes elas não sejam confirmadas, ocupam o noticiário por dias. As manifestações podem ter acentuado a rejeição à classe política, mas ela sempre existiu e cabe a nós compreendermos os motivos para então tentarmos responder a essas necessidades.
A população não tem dado crédito nem mesmo aos novos políticos, tamanha a descrença na política. Na verdade essa insatisfação é geral, mesmo em países onde o voto é facultativo, como nos Estados Unidos, apenas 45% a 50% dos eleitores votam nas disputas presidenciais, e o percentual costuma diminuir quando é preciso escolher um representante para o Parlamento. Mas como motivar os eleitores a exercerem o seu direito?
Creio que é preciso, primeiro, tornar as campanhas eleitorais menos agressivas, os candidatos precisam apresentar sua histórias e seus projetos, não apenas partir para o ataque ou para a defesa, como vimos nessa eleição. Além disso, é fundamental ouvir a voz das ruas, entender essa insatisfação generalizada, apresentando não apenas propostas futuras, mas aquelas que já foram executadas. As urnas “falaram” e agora cabe a nós compreendermos o que elas dizem. Avante Brasil!

*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e líder da bancada na Assembleia.

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