terça-feira, 30 de outubro de 2012

Opinião - Quando o maior predador do mar é o homem

Recebo mensalmente em meu gabinete um exemplar da revista Unesp Ciência e outros periódicos de universidades. A leitura deste material sempre acrescenta conhecimento. Neste mês não foi muito diferente e não poderia deixar de citar um artigo que me deixou estupefato.
"O predador que virou sopa" é a chamada de capa da revista Unesp e trata da extinção de uma espécie que costuma dar medo em muita gente: o tubarão. Tudo indica que a posição de vilão desses animais vem sendo descontruída pelo próprio homem, porque uma prática pesqueira conhecida como finning tem trazido preocupação aos especialistas.
No finning, o tubarão ainda vivo é levado a bordo e tem suas nadadeiras cortadas com uma lâmina de metal. Mas o ato cruel não acaba por aí, pois após retirar o que interessa, o pescador joga o que sobra do animal ao mar. Caso ainda esteja vivo, o tubarão, sem nadar direito, pode ser devorado por predadores ou afundar para a morte. A cena não é algo incomum em águas brasileiras. Além dos danos causados pelo finning aqui no Brasil, existe também a pesca acidental de espécies ameaçadas de tubarões e arraias.
Alguns leitores podem se perguntar, mas o que temos a ver com isso? Tudo, eu respondo. Cabe a nós zelarmos por todas as espécies, pois a extinção de uma única delas pode gerar caos em toda a cadeia alimentar.
Enquanto peixes produzem milhares de ovos, os tubarões têm poucos filhotes por vez. Esse é um dos motivos que faz com que o ritmo de reposição dessas espécies seja extremamente lento e sua extinção algo cada vez mais real.
A China é um dos maiores compradores de nadadeiras de tubarão. Ainda hoje, as barbatanas de tubarão são muito consumidas em ocasiões especiais, como casamentos e reuniões de negócio. Embora muitos países possuam leis contra esse tipo de pesca, a comercialização da barbatana não é ilegal. Oficialmente, as exportações brasileiras de nadadeiras para a China movimentam U$ 2,3 milhões por ano. Existem, inclusive, empresários chineses incentivando pescadores artesanais brasileiros a capturarem tubarões.
Um grupo de pesquisadores da Unesp tem feito um trabalho maravilhoso de controle usando o DNA. Eles criaram uma espécie de biblioteca de códigos de barra genômicos, método capaz de identificar com precisão inúmeros grupos de tubarões, arraias e afins que frequentam a costa brasileira, inclusive alguns que estão na lista nacional de espécies ameaçadas. O trabalho destes pesquisadores traz à luz a uma situação estarrecedora e mostra que a pesquisa deve ser estimulada em todo o país.
A pesca de tubarões é uma atividade proibida por lei em alguns países, mas a comercialização de barbatana não é ilegal. Precisamos de uma legislação mais rígida e de uma fiscalização mais ampla. Ano após ano, o Brasil tem perdido espécies de animais e patentes de descobertas para empresários estrangeiros. Segundo o biólogo Fernando Fernandes Mendonça, pesquisador da Unesp de Botucatu: "Ouvimos dizer com frequência que passamos pela sexta grande extinção em massa da Terra, mas o que falta dizer é que essa extinção está sendo provocada pela nossa espécie". Isso é triste, mas é a mais pura verdade.
Parabéns à revista Unesp Ciência e aos pesquisadores que têm trazido um pouco de esperança a esta realidade caótica.

*Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e líder da bancada na Assembleia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário