
Utilizando este espaço em que nós, parlamentares, podemos expressar
nossa opinião, resolvi refletir sobre a função da imprensa brasileira e o
impacto de suas notícias na vida das pessoas. Cabe lembrar que minhas
críticas estão embasadas em reflexões pessoais, pois deixo aos
estudiosos do assunto uma análise mais aprofundada sobre o tema.
Creio
que este seja um momento propício para avaliar um grupo que certas
vezes coloca-se como juiz e algoz de entidades, pessoas e grupos. Nos
últimos dias, a imprensa nacional fez uma cobertura exaustiva do
assassinato brutal do diretor-executivo da Yoki, Marcos Kitano
Matsunaga. Fundada em 1960 pelo imigrante japonês Yoshizo Kitano, a
conceituada empresa seria comprada nos próximos dias pela americana
General Mills, por algo em torno de R$ 2 bilhões, mas pelo excesso
cometido nas coberturas da imprensa, que expuseram a vida íntima e
ligaram seu nome seguidamente ao da empresa, a transação poderá não ser
tão vantajosa assim. Especialistas do setor dizem que a empresa pode ter
uma perda de 25%. Pergunto então: quem pagará essa conta se a Yoki
tiver esse prejuízo?
Todas as profissões e setores possuem seus próprios
códigos de ética, por que então a imprensa não possui o seu? O que nos
garante que não seremos os próximos a sofrer absurdos como este?
Isso
tudo por causa de uma cobertura irresponsável que repercutiu e explodiu
nas redes sociais no mesmo grau, com a reprodução de centenas de piadas
de mau gosto sobre o assassinato do diretor-executivo, além de
brincadeiras sobre a Yoki e seus produtos. E como no mundo empresarial é
extremamente importante manter o nome de uma instituição, este talvez
não seja um dos períodos mais felizes para a empresa.
Sempre ouvi
falar do poder da imprensa, de suas qualidades, mas também dos
malefícios que ela pode causar. Fiquei pensando no assunto nesta semana,
e resolvi confabular com o leitor. A imprensa exerce uma função muito
importante em nossa sociedade atual, cabe a ela ser o "grilo falante" e
os olhos da sociedade. Décadas atrás, em meio à censura, os meios de
comunicação eram amordaçados, mas com a mudança de contexto o jornalismo
precisou tomar novos rumos.
Hoje, vemos uma febre pela nova versão e
pelo "furo" acima de tudo. O problema é que, em um país de poucos
leitores, nem todos conseguem ler uma notícia de maneira crítica. Nesse
ponto, a notícia torna-se quase que um produto que precisa chamar a
atenção para vender mais. Podemos verificar isso quando o título de uma
matéria nos chama a atenção para um assunto, mas, ao lermos o texto,
percebemos que a afirmação inicial não passava de uma suposição.
Sei
que não é possível alcançar a objetividade total, mas é importante ter
cuidado ao afirmar certas coisas. Um exemplo do mau uso da palavra foi
um fato que ocorreu em março de 1994, quando vários órgãos da imprensa
publicaram uma série de reportagens sobre seis pessoas que estariam
envolvidas com o abuso sexual de crianças, alunas da Escola Base, em São
Paulo. A divulgação do caso levou à depredação e saque da escola, os
donos foram presos. No entanto, o inquérito policial foi arquivado por
falta de provas. Na época, as empresas de comunicação responsáveis pelas
denúncias antecipadas foram processadas, mas pergunto: as indenizações
apagarão os momentos vividos por aquelas pessoas?
A Constituição
Federal assegura a todos a liberdade de pensamento, mas também resguarda
o direito à reputação e à honra. Geralmente, a mídia não acusa ninguém
de ter cometido um crime, pois a própria lei proíbe essa atitude, mas a
repercussão dada por uma suposição tem um efeito moral destrutivo e
danoso ao personagem do texto. A condenação moral praticada pela
imprensa, além de atingir a vítima, também convence os julgadores e a
população. Nesse ponto, ela assume ao mesmo tempo a posição de julgar e
condenar, fazendo com que pareça que sua função é substituir as
instituições que não funcionam. A notícia, da maneira como costuma ser
veiculada, quase que condena antecipadamente o suposto culpado, e caso o
sujeito seja inocentado não há um esforço em dar a mesma importância ao
assunto.
Não podemos deixar de lembrar que existem os bons
profissionais que, mesmo com a falta de liberdade de imprensa, exercem
com competência os seus trabalhos. A liberdade de imprensa é também um
pressuposto do Estado Democrático de Direito, sua importância é tamanha,
pois, além de trazer à tona informações desconhecidas, ela testemunha e
registra fatos e momentos históricos. Mas o que se vê hoje é uma
imprensa que, em geral, torna-se sensacionalista para vender mais e cai
no erro de reproduzir estereótipos e julgamentos preconcebidos, levando
esses profissionais ao total descrédito.
Algumas empresas de
comunicação têm se preocupado unicamente em dar notícias em primeira mão
que possam gerar impacto nas pessoas; esse modelo foi criado para que
nós vivamos eternamente em choque, como se a única salvação fosse a
libertadora verdade da imprensa.
Acordemos! Chega de recortes da
realidade que em nada se parecem com a liberdade de pensamento, mas
apenas aprisionam a sociedade em um tipo de pensamento preconcebido por
aqueles que muitos interesses têm.
Gilmaci Santos é deputado estadual pelo PRB e presidente estadual do partido.